De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará
A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito
Como uma onda (Lulu Santos e Nelson Motta)
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Nós (homens) somos seres NATURAIS. Para sobrevivermos e
satisfazermos as nossas carências (alimentação, abrigo, afeto, reconhecimento,
etc), e nos perpetuar enquanto espécie, precisamos nos relacionar com a natureza.
Mas esta relação é diferente da que os outros animais realizam. Estes, por
serem determinados biologicamente, agem presos ao “aqui agora”. As nossas
ações, por outro lado, são UNIVERSAIS, ou seja, ultrapassam as condições que
nos são dadas, pois não estão limitadas às necessidades atuais e momentâneas.
O que recebemos dos nossos antepassados e aprendemos na
interação com o mundo transmitimos para as gerações subsequentes,
permitindo-lhes que não partam do “zero”. Assim, gradativamente, “humanizamos”
a natureza numa relação dialética, posto que ao alterá-la, modificamo-nos
também, num processo infinito de interdependência que podemos denominar de
PROCESSO DE PRODUÇÃO DA EXISTÊNCIA HUMANA. Esse processo é social, visto
que não é um único homem que o realiza, mas todos nós enquanto espécie; e,
embora na base das relações que estabelecemos com a natureza esteja o TRABALHO,
também criamos IDEIAS e os mecanismos para as suas elaborações. Dentre as
idéias criadas, parte delas constitui o conhecimento referente ao mundo, tais
como a Ciência, Filosofia,
Mito/Religião, Arte e Senso Comum.
Mas não é a simples carência que possuímos, enquanto seres
biológicos, psicológicos, sociais e espirituais, que nos torna capazes de
CONHECIMENTO. É preciso o concurso de certas faculdades ou atributos para que a
nossa ação, neste mundo, seja diferenciada. Nesse contexto, a RAZÃO e a MEMÓRIA
desempenham um papel fundamental ao permitirem que organizemos os nossos
pensamentos e possamos nos expressar por meio de símbolos (linguagem
conceitual). Dessa forma, criamos outra dimensão de existência: a ABSTRATA ou
TEÓRICA, onde situamos os fatos da vida no tempo (passado, presente e
futuro) e no espaço, instituindo a história.
Somos históricos porque construímos a nossa existência a cada
momento e de forma singular, imprimindo, na realidade, a indisfarçável marca da
nossa mão. Esse PODER que temos de instituir o novo determina a forma
peculiar da relação que estabelecemos com a natureza, que, sobretudo, é
intencional e planejada. Em outras palavras, agimos CONSCIENTEMENTE, porque
sabemos que sabemos.
O resultado da nossa ação consciente e transformadora na
natureza, para além do "aqui agora", com vistas à satisfação das
nossas carências, chama-se CULTURA.
Dentre as manifestações culturais, a Religião é o tipo de conhecimento (ou teoria) do mundo que tem como
pressuposto básico a revelação da “verdade” por meio de um intermediário ou
profeta. Mas essa revelação somente tem “valor de verdade” para quem nela
acredita (fé), posto que o que é revelado normalmente é atribuído a um ser
supremo (Deus) que, por sua possível onipotência, “conhece” os mistérios da
natureza. Por ser uma teoria dada (não perquirida), a Religião é, por
excelência, caracterizada pelo dogmatismo (embora os demais tipos de conhecimentos
também possam ser dogmáticos), pois a sua obtenção não é precedida de um
trabalho crítico/investigativo, mas na pacífica crença do que é revelado.
A Arte por sua vez
é uma teoria que tem na liberdade de expressão a sua principal
característica. A linguagem, neste caso, não é limitada por normas (como é
comum na Ciência e Filosofia), nem possui uma forma pré-estabelecida. Embora o
homem também use o discurso racional quando recorre a Arte para falar sobre a natureza,
possui na intuição racional o seu ponto forte, visto que, neste caso,
não precisa demonstrar o “real”, mas apenas mostrá-lo ou revelá-lo. Com o
pensamento artístico o homem pode falar do geral e do particular sem possuir
pretensões universais, pois, diferentemente do cientista e filósofo, não
está empenhado na obtenção de uma teoria que tenha validade para todos os seres
humanos, mas, simplesmente, mostrar como a realidade se revelou.
Por outro lado, o Senso
Comum é o tipo de conhecimento sem o qual, simplesmente, não existiríamos
neste mundo. Neste caso o homem pensa a natureza sem o amparo de um método
definido (ametódico) e, por esse motivo, não consegue conhecer os
fenômenos em suas causas mais intrínsecas (superficial), nem fazer
ampliações intelectuais que lhe permita relacionar acontecimentos aparentemente
sem nexo (assistemático). Apesar de tudo é um tipo de conhecimento
racional da natureza que combina as experiências humanas, do indivíduo e do
grupo, permitindo a obtenção de conclusões particulares (que servem
apenas para aquele caso) da natureza como se universais (para todos os casos)
fossem. Mesmo com essas e outras limitações, é a partir do senso comum que o
homem elabora as formas mais sofisticadas de conhecimento (filosofia e
Ciência), visto que muitas conclusões empíricas são o ponto de partida para a
reflexão filosófica e/ou pesquisa científica.
A Ciência, como
foi dito, parte do Senso Comum, mas logo se diferencia dele pelo MÉTODO e pela “validade
universal” de suas proposições. Aliás, se o homem não elaborar, neste caso, um
discurso universalmente válido não estaremos no âmbito do conhecimento
científico. Mas para ser um conhecimento que vai das raízes (causas) aos
efeitos mais gerais dos fenômenos, referindo-se a um número significativo de
casos semelhantes, o método científico não pode ser aplicado a todo e qualquer
acontecimento, mas apenas aqueles que podem ser mensurados (quantificados) e
submetidos à experimentação e que possam, de alguma forma, ser passíveis de
verificação por um número significativo de pesquisadores (comunidade
científica). A maior precisão científica, com relação aos outros tipos de
conhecimentos, depende do método (com emprego da matemática e instrumentos que
tornam a observação mais precisa) e da forma circunscrita como aborda o seu
objeto de estudo, posto que a ciência é um olhar bem limitado ou restrito da
realidade. O todo, nesse
sentido, jamais será objeto da Ciência, mas apenas uma parcela bem delimitada da
natureza, exatamente aquela que pode receber tratamento científico.
Por fim, a Filosofia,
como a Ciência, é um conhecimento racional da natureza que também possui
pretensões universais, porém é sistemática na forma de abordar o seu
objeto de estudo, pois não abdica ao direito de compreendê-lo sempre a partir
do contexto (sociológico, histórico, econômico, político, etc.) no qual está inserido.
A Ciência é sistemática com relação a um mesmo objeto; a Filosofia, com relação
a objetos distintos. Filosofar é reunir de forma rigorosa (linguagem técnica)
o saber fragmentado da Ciência e dos demais campos do conhecimento a fim de
garantir um tipo de compreensão da realidade que somente é possível quando
juntamos as peças do quebra cabeça da natureza. A filosofia é a ilusão do saber
interdisciplinar da realidade, para tanto usa a lógica e história como métodos
básicos.
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