quarta-feira, 23 de março de 2011

Duciomar e a caverna de Platão


Tentarei, neste artigo, defender a tese de que o prefeito de Belém, Duciomar Costa, diferentemente do que algumas pessoas dizem – talvez se baseando em alguns deslizes gramaticais praticados pelo nosso alcaide – possui sensibilidade e raciocínio acima da média, o que lhe permitiu a reeleição ao cargo majoritário nas últimas eleições municipais.

Não sei se Duciomar leu “A República” de Platão ou qualquer diálogo do filósofo grego, mas, de alguma forma, deve ter percebido que a sociedade funciona como o fundo da caverna imaginária, anunciada na carta VII daquela obra. Lá as pessoas não enxergam a luz exterior que alumia o verdadeiro conhecimento, pois estão presas por grilhões, que representam os preconceitos e opiniões construídas pelo hábito. Elas se encontram geração após geração nessa situação e nunca viram os seres como eles são em si mesmos, mas apenas as suas sombras projetadas no fundo da caverna. Por isso acreditam que elas (as sombras) são a única e verdadeira realidade. Se um prisioneiro fugir da caverna e, no mundo exterior, conhecer as coisas como de fato são (por meio da razão), ao retornar não conseguirá convencer os seus companheiros de que estiveram enganados sobre o que é a realidade, pois o terão como louco e o matarão.

Platão nos alerta por meio dessa alegoria que a natureza humana é resistente às mudanças e buscamos sempre o conforto das opiniões convergentes, que nos tranqüilizam ante um mundo em permanente transformação. Buscamos o que nos agrada em detrimento do que podemos, de fato, conhecer, por isso os prisioneiros não possuem o desejo de sair da caverna para contemplar a realidade. Convém à esmagadora maioria o conforto do conhecimento ilusório das sombras. Em outros termos, para Platão o verdadeiro conhecimento não pode se basear na sensibilidade, que apenas capta a ilusão, mas na razão que é a única faculdade capaz de permitir que conheçamos o que é melhor para nós: o VERDADEIRO BEM.
.
Mas, a principal conclusão que se pode extrair desse mito não se refere à circunscrição do conhecimento verdadeiro à razão, mas a falta de interesse em buscá-lo. A grande maioria se satisfaz em ficar no ilusório conforto do fundo da caverna. Eis a razão que faz do filósofo um exceção, sobretudo do ponto de vista psicológico.
.
Por isso Duciomar, conhecendo a natureza dos seres que habitam o fundo da caverna paroara, empenhou-se em manipular os seus concidadãos. Deu-lhes o alimento de que precisavam para sobreviver: as ilusões.

Desde o início de sua trajetória política, Duciomar trabalhou “na superfície” dos fenômenos, procurando minorar as suas conseqüências e assim dar a impressão de que estava, de fato, preocupado com bem da coletividade. Suas ações nunca ultrapassaram os limites de uma política assistencialista – com certa semelhança com as atuais “bolsas” do governo federal. Mas, como os prisioneiros do mundo sensível não conseguem compreender as causas dos males que lhes afetam, se satisfazem com quaisquer ações que aparentem resolvê-los e louvam os primeiros que as praticam. Daí ser muito comum ouvir, no fundo da caverna, a assertiva: “ESSE FOI O PRIMEIRO A FAZER ISSO OU AQUILO”, sem se darem conta se essas ações são eficazes para atacar as causas dos referidos problemas.

Sabedor que as paixões se sobressaem à razão no ambiente frio e úmido da caverna, Duciomar começou a sua inserção na seara pública fazendo o transporte – alternativo e ilegal - de centenas de pessoas esquecidas pelo Poder Público das mais longínquas localidades da área metropolitana da capital paraense. Com alguns ônibus velhos e muita desfaçatez alimentou a esperança e a dependência de inúmeras pessoas com o seu “projeto social”. Como Vereador e Deputado jamais exigiu do executivo municipal a solução definitiva para esse grave problema que afeta os mais desfavorecidos. Como prefeito também nada fez, nem mesmo advogou junto a Câmara Municipal pela regulamentação do transporte alternativo – do qual anteriormente participara -, ou outra providência eficaz para a melhoria do transporte coletivo de Belém, que é um dos mais caóticos das capitais brasileiras.

Ao assumir a Prefeitura de Belém, Duciomar teve um desempenho pífio nos três primeiros anos de gestão, justificados pela situação financeira difícil que recebeu do seu antecessor, mas nunca esclareceu amiúde tais dificuldades, nem quais providências adotou para responsabilizar os gestores que teriam malversado os recursos públicos. Preferiu lhes conceder o perdão de quem “não persegue ninguém”, pois sabia que os seus governados preferem administradores de “bom coração” que os que cumprem as leis. Leis são coisas abstratas, de difícil compreensão. Já o perdão é próprio de quem prioriza o sentimento sobre a razão.

Para assegurar que os seus concidadãos, pela situação que se encontravam, não ousariam querer conhecer a realidade exterior à caverna, Duciomar se aliou a um poderoso grupo de fabricação de ilusões, o qual, por qualquer vintém, é capaz de fazer qualquer jurisdicionado crer que as sombras são a única e verdadeira realidade.
.
Com o domínio completo de como funciona a caverna e sem pressa, Duciomar pôs em prática o seu plano de permanência no poder. Como demonstração de sua rara inteligência pragmática, empenhou-se, no último ano de governo, em trabalhar literalmente na superfície, asfaltando tudo o que passava em sua frente. Somente não asfaltou a Baía do Guajará por absoluta impossibilidade técnica. Em seguida, iniciou obras em todos os flancos da cidade. Praças, ciclovias, canteiros centrais, orla da Bernardo Sayão, etc. Conseguiu convencer grande parte do seu séqüito de incautos cidadãos que a cidade estava um "canteiro de obras". O trabalho de prestidigitação foi tão bom – com o auxílio da fábrica de ilusões – que nem o caos na saúde, educação, transporte, segurança, etc, conseguiu impedir que Duciomar, com louvor, fosse mantido no cargo por mais 04 longas escuridões.

Hoje todas essas obras – e o Ministério Público também – estão paradas, como se as suas realizações não tivessem cronogramas e as condições de pagamento não tivessem sido objeto de um prévio contrato. Até parece que são obras caseiras que levamos aos “trancos e barrancos” ao sabor do nosso combalido bolso. Mas agora nada disso importa, pois o nosso ilustre prefeito tem a seu favor a aquiescência do povo que o reelegeu e "aprovou" a sua forma de governar.
.
Por isso, não adianta chorar pelo leite derramado, nem acreditar que é empresa fácil sair do fundo da caverna, porque o gosto pela escuridão não foi criado por Platão nem Duciomar, mas é parte integrante da própria natureza humana, que somente a muito custo – e com o surgimento de uma linhagem de super-homens – poderemos sonhar com o gosto maciço pela luz do conhecimento. Enquanto isso, temos que reconhecer que Duciomar apenas deu ao povo o que ele mais deseja: A ILUSÃO DE QUE A REALIDADE ESTÁ MARAVILHOSA.

2 comentários:

  1. Marcos de mineração 1

    professor com licença da palavra mas o senhor tem uma visão politica muito doida, inspiradora!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Se Liberte da caverna meu filho..Doido é vc!

      Excluir