Para compreendermos o pensamento ético de Aristóteles devemos começar pelos seus estudos em Psicologia. Segundo ele, todos os seres vivos possuem um princípio que lhes dá a vida, que é a alma, mas cujas manifestações diferem segundo as funções que lhes são próprias. Os vegetais possuiriam somente uma alma VEGETATIVA, compatível com as faculdades de reprodução e crescimento; os animais, uma alma vegetativa e SENSITIVA, pois além do crescimento e reprodução seriam dotados de percepção do mundo e capacidade de movimento; o homem, além das almas citadas anteriormente, seria dotado da alma INTELECTIVA ou racional, pois seria possuidor, dentre outras coisas, da faculdade de raciocinar.
Dito isso, o filósofo entende que cada AÇÃO que praticamos visa um fim e esse fim é um bem para nós, na medida em que nos parece bom e desejável. Na cadeia sucessiva de fins estaria o fim último ou bem maior que todos nós aspiramos: a felicidade (eudaimonia), porque ela não seria um meio para nenhum outro fim, se realizando em si mesma, enquanto bem supremo.
Nesse contexto, seríamos felizes quando realizássemos bem a nossa missão enquanto homens, agindo segundo a nossa virtude, que é o pleno exercício da atividade racional, pois, dessa forma, estaríamos nos aperfeiçoando enquanto homens, nos termos da nossa constituição psicológica (aquilo que nos diferencia de todas as outras coisas). Em outras palavras, seria colocar em ATO aquilo que está em potência em nós. Por isso, segundo Aristóteles, não deveríamos nos contentar com a nossa condição de seres viventes, nem capazes de uma vida sensitiva, visto que tais faculdades também são comuns às plantas e animais. Portanto, somente a atividade da razão poderia nos tornar virtuosos e felizes.
É sempre bom lembrar que Aristóteles não condena os prazeres do corpo (apetites ou desejos), pois entende que eles participam da nossa alma (sensitiva), nos impulsionado ao que causa prazer e nos afastando do que causa dor. Mas os subordina à alma intelectiva que é própria e exclusiva do seres humanos.
Por isso, agir virtuosamente é agir segundo aquilo que nos é próprio, isto é, segundo a razão. Mas essa ação não se realiza eventualmente, mas reiteradamente, como obra de uma vida inteira, ou seja, enquanto HÁBITO.
Para que a ação virtuosa seja possível, considerando que não somos pura razão, mas também somos inclinados a buscar o prazer e fugir da dor (páthos) é necessário que permanentemente DELIBEREMOS com vistas ao BEM (a felicidade). Logo, a tarefa da ética é educar o nosso apetite/desejo para que evitemos o vício e alcancemos a virtude. A virtude é a medida entre os extremos (vícios), a moderação entre dois extremos, o JUSTO MEIO (nem excesso nem falta). É a ação de impor limites ao que, por si mesmo, não conhece limites. É pesar, ponderar, equilibrar e deliberar.
A ação virtuosa não é uma inclinação ou aptidão (como julgara Platão), mas um permanente deliberar, um HÁBITO ADQUIRIDO, uma disposição permanente de querer o BEM. A tarefa da ética é a de nos orientar para aquisição desse hábito: “O exercício da vontade sob a orientação da razão para deliberar e escolher ações que permitam satisfazer apetites e desejos sem cair num dos extremos”. Segundo o filósofo, somente nos tornamos bons, praticando atos bons.
É sempre bom lembrar que, para o filósofo, os apetites e desejos não são bons ou maus, desde que se submetam aos ditames da razão. Por isso, não nascemos bons ou maus, mas nos tornamos pela ação. E se nos tornamos (ou não) virtuosos pela ação é porque podemos escolher dentre uma ou outra possibilidade de conduta. Aristóteles inova ao reconhecer que uma coisa é conhecer o bem e outra é fazer o bem (veja como ele se afasta do intelectualismo socrático). Daí a importância do ato de escolha (ou deliberação) para a constituição do ato moral.
Lembremos que Aristóteles se difere de Sócrates e Platão justamente no que atine aos atos voluntários ou involuntários. Para estes, os desejos e apetites são involuntários, porque irracionais, passionais e frutos da ignorância do homem. Para Aristóteles, as paixões, enquanto integrantes da alma humana, compõem o rol dos atos voluntários, posto que são frutos daquilo que a nossa natureza nos leva natural e conscientemente a realizar. Para o estagirita, somente praticaríamos atos “involuntários” sob coação ou constrangimento.
Portanto um ato voluntário é ético quando ele depende de nós no contexto em que é praticado, ou seja, quando é fruto da nossa deliberação (liberdade) consciente, segundo o JUSTO MEIO, com vistas ao BEM, isto é, a FELICIDADE. Aristóteles reconhece a existência do sujeito autônomo, enquanto aquele que é capaz de RESPONDER pelos seus atos.
legaal ...
ResponderExcluirA humanidade vive nos extremos, sempre vimos geração de alto moralismo e rigidez seguida de geração de liberalismo exagerado. Assim foi e é nas artes, Ateísmo e excesso de fé. Quando a sociedade encontrar uma maneira de viver no "meio", teremos um mundo melhor.
ResponderExcluirMto interessante
ResponderExcluirEu gostaria de saber sobre apenas o pensamento etico de aristoteles podem me ajudar
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