No primeiro soneto temos o eu lírico feminino caracterizado pelo esforço em afastar o que atormenta e inquieta - mesmo que seja prazeroso -, posto que a fuga da dor é considerado um valor maior que a busca do prazer (visão invertida da realidade, promovida por questões morais). No segundo, temos a posição - contradita - do poeta.
I
Não quero mais o teu beijo
Que tanto prazer me trouxe
Que é úmido, inquieto e doce,
Mas mirrou o leite do meu seio.
Que tanto prazer me trouxe
Que é úmido, inquieto e doce,
Mas mirrou o leite do meu seio.
É verdade que ainda te desejo
E a tua presença arde em meu ser,
Mas não quero o que dói e dá prazer;
Que ora é inteiro, ora é meio.
E a tua presença arde em meu ser,
Mas não quero o que dói e dá prazer;
Que ora é inteiro, ora é meio.
Hoje, por uma razão qualquer,
Só quero o que convém e apraz
Meu espírito de mulher,
Só quero o que convém e apraz
Meu espírito de mulher,
Que cansado de sofrer
Prefere a calma de "amar" em paz
Que o torpor de tanto prazer.
Prefere a calma de "amar" em paz
Que o torpor de tanto prazer.
II
Pensas que a dor
Não pode habitar um ser
Que experimenta o amor
E a delícia do prazer.
Não pode habitar um ser
Que experimenta o amor
E a delícia do prazer.
Por isso, ao revés,
Buscas a eterna felicidade
Alhures, sem saber que és
A diversa realidade,
Buscas a eterna felicidade
Alhures, sem saber que és
A diversa realidade,
Porém, ao "afastar" a dor,
Que evitas e que te faz sofrer,
Esqueces-te que a inquietude
Que evitas e que te faz sofrer,
Esqueces-te que a inquietude
Do ser é a sua virtude.
E ao negares a dor do prazer
Demites também o amor.
E ao negares a dor do prazer
Demites também o amor.
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