Não há como compreender a forma
de pensar do homem ocidental moderno sem a apreensão de um conceito
fundamental, o de PRINCÍPIO. Desde os pensadores Pré-Socráticos até os teóricos
da mais fina ciência, de uma forma ou de outra, todos basearam a estrutura de
suas teorias na busca de ideias unificadoras capazes de explicar, dentro de um
determinado campo de fenômenos, a realidade. Essas ideias universais partem do
pressuposto de que é possível capturar o que há de homogêneo nos acontecimentos
da vida, mesmo quando parecem não possuir qualquer conexão entre si.
Absolutamente nada foge ao alcance desse conceito. Ele funciona como o terreno
fértil onde as sementes do pensamento ocidental foram plantadas e proliferaram.
Logicamente que o conceito de
PRINCÍPIO não está aqui posto na acepção de início ou prenúncio de um
acontecimento qualquer, mas como fundamento lógico e universal dos fatos que
normalmente consideramos como componentes da realidade. PRINCÍPIOS são,
sobretudo, ideias (pensamentos ou teorias) de alcance geral (universal), que
são literalmente "descobertas" e com as quais se tenta explicar,
compreender, interpretar e conhecer um conjunto de fatos tidos como
pertencentes a uma mesma categoria ou modalidade de fenômenos. Convém ressaltar
que essas "teorias universais" têm o seu principal escopo no campo
epistemológico, ou seja, o de viabilizar a explicação da realidade, mas podem
ser aplicadas isoladamente ou em conjunto com o escopo de produzir determinados
efeitos práticos no mundo.
Como consequência da sua natureza
universal, os PRINCÍPIOS são, sobretudo, abstrações, ou seja, algo que, de
certa forma, somente pode ser capturado pela atividade intelectual. Embora eles
estejam presentes, de forma implícita, em todos os acontecimentos reais, não é
possível percebê-los com os órgãos da sensibilidade. Para capturá-los (fazê-los
aparecer) é preciso intuí-los por meio de uma estratégia racional. Ao longo da
história do conhecimento humano, vários métodos foram utilizados para
desvelá-los e assim permitir ao homem a compreensão dos mais diversos
acontecimentos.
Os PRINCÍPIOS também são, nos
diversos campos do conhecimento, denominados de FÓRMULAS, LEIS, PADRÕES,
MODELOS, etc., mas não importa a palavra ou conceito que utilizemos para
designá-los, pois sempre que uma ideia geral puder ser aplicada com o condão de
elucidar um conjunto de fenômenos semelhantes, ali residirá um princípio. Como
exemplo, quando um professor ensina que, para calcular a área de um piso,
parede, quadro escolar ou de uma simples folha de papel A4, é necessário aplicar
a estratégia teórica de multiplicar um lado pelo outro (ou base x altura),
temos a "fórmula universal" que aqui denomino de PRINCÍPIO.
Mesmo presentes em todas as áreas
do saber humano, é no campo filosófico e científico que os princípios residem
com mais excelência e rigor, haja vista que é intrínseco a esses conhecimentos explicar
os seus objetos a partir de premissas universais. Porém, os filósofos e
cientistas não os CRIAM, mas os "descobrem" no sentido estrito do
termo, na medida em que, ao estarem "por trás" da realidade visível,
somente podem ser capturados pelo intelecto, razão pela qual é lícito dizer que
eles preexistem a todo e qualquer processo cognitivo, podendo apenas, em
determinado momento histórico, ser revelados por um ou mais seres humanos a
quem foi dado o poder de conhecê-los, transcrevendo-os numa fórmula, lei ou
modelo aplicável a um determinado conjunto de fatos. Nesse sentido, pode-se
afirmar que não há conhecimento sem a apreensão desses conceitos reveladores do
ser das coisas, com os quais nos tornamos habilitados a pensar o mundo pelos vieses
científico e filosófico.
As excludentes de ilicitude, como
a legítima defesa e o estado de necessidade, no campo do Direito Penal, são
exemplos de princípios; No Direito Administrativo, temos a impessoalidade,
publicidade, moralidade, etc. Na física, as Leis da Inércia e da Dinâmica são
princípios. As Leis da Conservação da Energia (Princípio de Joule) e da massa
são princípios Químicos. Os teoremas de Pitágoras, Ptolomeu e Tales, também o
são na matemática; bem como o Positivismo, Evolucionismo e o Organicismo no
âmbito da sociologia. A AMIZADE, por outro lado, é um princípio do pensamento
cristão; e o CONCEITO e a EFICIÊNCIA, da ética socrática e maquiaveliana, respectivamente.
Não há, no Ocidente, uma teoria que não tenha o seu fundamento numa ideia
universal qualquer.
É sempre bom lembrar que os
princípios estão no mundo, ou seja, pertencem intrinsecamente a cada grupo de
fenômenos. Nesse – e somente nesse – sentido eles são ABSOLUTOS, porém, quando
considerados do ponto de vista epistemológico, isto é, enquanto objetos de
conhecimento, são transitórios e relativos, se alterando com o passar do tempo
e o avanço das pesquisas nas diversas áreas de investigação humana. No entanto,
essa “maleabilidade” não é a mesma em todos os campos de pesquisa. A regularidade,
ou não, com que os objetos se manifestam afeta diretamente a estabilidade dos princípios,
razão pela qual os da Matemática e Lógica, enquanto campos de conhecimento que
trabalham com objetos formais, são os mais estáveis e menos históricos que
conhecemos. No mesmo diapasão, no campo filosófico, os princípios da
Metafísica. Um pouco mais históricos são os princípios que decorrem do mundo
natural e, por fim, os ligados ao comportamento humano são os mais instáveis.
O que vc explicaria sobre o que é a realidade.
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