Os profissionais que fazem PLANEJAMENTO são os mais
requisitados do mercado, justamente por saberem lidar com o futuro. Eles partem
da crença na existência de uma ordem invisível, mas cognoscível, que regula o
comportamento da natureza. Para aprendê-la constroem MODELOS de funcionamento
da realidade, que são esquemas abstratos (hipotéticos) com os quais explicam a
ocorrência dos fenômenos. Ao contrário do que se pensa comumente, o planejamento
não parte dos fatos, mas tem a sua validade confirmada (ou não) por eles.
O mais interessante é que o homem em nível empírico também
constrói padrões (MODELOS) de funcionamento da realidade, porém confirmados por
um número pequeno de fatos, no entanto, precipitadamente, são considerados com
a mesma validade dos conhecimentos que são confirmados pela maioria das
ocorrências. Na ciência e filosofia a razão encontra assento na regra; no senso
comum, nos casos isolados. Mas todos são construções intelectuais que orientam
o homem ante os mais variados problemas. Nesse contexto, dizer que “manga com
febre é letal”, tem a mesma origem epistemológica que “Um corpo de massa maior
atrai o de massa menor”.
Isso prova que, seja em nível científico, filosófico ou
empírico, o FUTURO é concebido como algo que pode ser conhecido e influenciado
pelo homem. Nos diversos discursos humanos essa crença está implícita: “No
futuro a semente será uma árvore”, “Amanhã o sol vai nascer”, “Os radicais
livres aceleram o envelhecimento das células”, etc.
Acreditamos nessa possibilidade, porque os fenômenos naturais
observam certa relação de necessidade entre si (nexo de causalidade) ou, como denominaram
os modernos, possuem “comportamento mecânico”. E como o homem também integra a
natureza, é razoável supor que o seu pensamento e conduta seguem os mesmos princípios
mecanicistas.
No entanto, além de mecânico o mundo é inteligente, pois, embora
se comporte com certa regularidade em determinados casos, é capaz, em outras
situações, de buscar soluções que não estavam inscritas em sua matriz natural,
ou seja, adaptando-se a situações novas.
São essas faculdades que permitem ao ser humano antecipar-se
aos acontecimentos e construir MODELOS de funcionamento da realidade. Para isso
concatena os fatos logicamente a partir da compreensão das relações íntimas que
possuem. É sempre bom lembrar que a lógica seleciona o necessário e descarta o
contingente. Foi assim, como um processo darwiniano, que os diversos
conhecimentos do mundo se tornaram possíveis.
Partindo da crença de que as manifestações naturais e
psicológicas observam certa regularidade, é possível “prever” os fatos, recorrendo a todo conhecimento construído
pelo homem ao longo da história, isto é, recorrendo à cultura. É a partir do
que foi produzido pelos nossos antepassados que elaboramos as teorias sobre a
natureza, selecionando o que é relevante e ignorando o que consideramos
desprezível.
É dessa forma que construímos modelos de funcionamento da
realidade. Alguns modelos são bons outros não. No mundo capitalismo hodierno,
por exemplo, é consagrada a hipótese na qual o homem social e economicamente
bem posicionado é feliz. Mas podemos dizer, com outro padrão teórico, que essa
compreensão é limitada por desconsiderar o aspecto emocional ou psicológico,
que em muitas situações concretas (fatos) se mostra mais importante. Quando um
ente querido corre perigo, por exemplo, somos capazes de empenhar verdadeiras
fortunas para salvá-lo.
É preciso, como foi dito alhures, usar o passado para
projetar o futuro, inclusive no mundo psicológico e moral, afinal neste âmbito
a mecanicidade também está presente. Para organizar as informações usa-se a
razão, seja em forma de raciocínio, que é próprio do discurso; ou de intuição,
enquanto visão imediata das coisas, embora ambos (discurso e intuição) sejam
metades de um mesmo trabalho intelectual. Somente faz boas intuições quem
percorreu os penosos caminhos do discurso, e vice-versa.
Para lidar com os fatos (futuros) “os deuses” nos deram uma
ferramenta espetacular, a IMAGINAÇÃO, mas quando mal utilizada pode nos conduzir
às fantasias e ilusões. Para conter o ímpeto delirante do nosso pensamento é
importante estabelecer METAS e OBJETIVOS factíveis e iniciar a sua persecução
num curto lapso temporal. É preciso começar a agir imediatamente para tornar o
“SONHO” vigente e factível. Uma idéia que fica somente no pensamento se
transforma em fantasia. Ex: A idéia de um emprego público que não é sucedida de
uma estratégia de estudo para aprovação no concurso é ilusão.
O futuro é apreendido pela imaginação, mas requer
planejamento e objetivo (metas). Para selecionar as informações disponíveis é
preciso saber onde obtê-las e aonde se quer chegar. Não se traça um itinerário
sem um destino certo. Delimita-se o objetivo para depois determinar os
instrumentos a serem utilizados. Mas, circunscrever
e realizar metas é uma ARTE que requer acurado trabalho mental. Se a
projetarmos para um futuro longínquo, a sucessão infinita de etapas poderá
tornar o objetivo inalcançável; se perto demais, o objetivo poderá surgir antes
da realização de etapas necessárias para a sua satisfatória consecução. É como
dirigir um carro, não se deve olhar para a “linha do horizonte”, nem para o
pára-choque dianteiro. Em ambos os casos a condução do veículo será prejudicada.
Apesar da aparente inconstância do mundo em diversas
situações, como disse Maquiavel na obra “O Príncipe”, é possível dominar a
Fortuna, o acaso, o inesperado e se adequar aos fatos adversos quando se tem
sabedoria na ação.
Além da imaginação, a consciência do tempo presente é
importante para lidar com o futuro. Surge, assim, outra ferramenta que está
disponível ao homem que sabe agir: o SENSO DE INICIATIVA ou OPORTUNIDADE. Para
isso é preciso estar atento e conhecer os modelos que tratam do objeto que se
quer controlar.
A iniciativa não pode ser transferida para outrem, senão o
futuro se vinculará a um fator alheio e tornar-se-á incontrolável. A mesma
lógica contempla o que chamamos de “Direção Defensiva”, ou seja, no trânsito,
há sempre o que podemos fazer para evitar um acidente, se não transferirmos a
iniciativa para o outro.
Como foi dito, é com a consciência do tempo passado que se
planeja o futuro. Os especialistas são aqueles que recorrem à MEMÓRIA da
humanidade (cultura) para prever os acontecimentos. Para tanto o homem utiliza
o recurso poderosíssimo da linguagem simbólica. Mas é preciso destreza
para trazer à baila apenas as coisas (materiais ou emocionais) que são
relevantes para a ação que se quer empreender no presente. É preciso habilidade
para descartar o desnecessário, senão o trajeto será emperrado com uma
sobrecarga de coisas que apenas atrapalharão a conduta. No campo comportamental
preservar certos pensamentos e sentimentos pode ser extremamente prejudicial. É
nesse diapasão que o perdão, para os Cristãos, liberta o homem e o torna apto
para a ação.
É preciso se descolar, se libertar das coisas concretas ou
abstratas que prendem o homem a situações irrelevantes no presente. As doenças
mentais, por exemplo, surgem quando o homem não consegue se desvincular de
certas coisas e as “rumina” sem qualquer utilidade para a sua vida prática.
Esse desapego é fundamental para assegurar a eficácia da iniciativa com vistas
ao controle dos fatos futuros.
Assim, o homem possui instrumentos para lidar com o passado,
presente e o futuro. Se souber lidar com esses instrumentos será capaz de
dominar, “como um Deus”, o tempo, tornando-se um cientista, religioso,
político, artista ou filósofo.
· Referências:
- Palestra: “Como lidar o futuro?” (professor Luis Carlos Marques);
- Filosofia da Ciência (Rubem Alves);
- O príncipe (Maquiavel).
Boa tarde,
ResponderExcluirMeu nome é Sophi, trabalho no departamento de divulgação da Juruá Editora e gostaria de lhe fazer uma proposta de parceria. Caso tenha interesse em saber mais detalhes, peço a gentileza de que entre em contato no e-mail divulgacao@jurua.com.br.
Agradeço a atenção.